Vem este antigo provérbio africano (que
Hillary Clinton tornou famoso nos idos de 90) a propósito das escolhas desastrosas que o governo de Sócrates voltou a fazer na educação. Fechar escolas com menos de 20 alunos é uma escolha. Uma escolha política que tem custos tremendos para o interior. Mais uma vez. Pode argumentar-se que é por questões económicas - eu não acredito mas isso é outra coisa.
Em relação às
tretas pedagógicas que têm sido argumentadas para justificar o
injustificável lá irei mas, para já, vamos ao que resta, depois de fechadas as escolas.
Imagine o sr. engenheiro e a senhora ministra da educação o seguinte cenário numa aldeia pequena, numa vila, em qualquer lugarejo onde, até há bem poucos anos, existiu uma escola: por volta da hora de saída pais, avós, uma vizinha, alguém próximo espera a criança à porta da escola. Conversa-se, percorre-se o caminho a pé,
cumprimenta-se este e aquele "
diz olá ao sr. António filho", entra-se na padaria "
queres este bolinho?", pergunta a Dona Júlia. Mesmo quando a criança pode voltar
sózinha para casa há toda uma rede social de laços e relações que asseguram a vigilância e o acompanhamento suficientes "
o teu filho passou lá pelo café e dei-lhe o lanche", para que ele chegue a casa em segurança. Pode ser que a biblioteca não seja a melhor, que o quadro eléctrico da escola não suporte as ligações dos novíssimos quadros interactivos, dos computadores e do aquecimento no inverno. Pode ser ...tanta coisa. A solução é simples, tão simples não é? Às vezes bastaria um pequeno investimento mas pronto, tudo isso custa muito dinheiro, muito mais do que as empresas de transportes cobram ao ministério, certamente.
É preciso uma comunidade para criar uma criança
srs. ministros, acreditem!
E não, não queremos escolas com três crianças. Mas talvez seja possível juntar crianças de lugarejos, aldeias e vilas próximas, ao invés de as carregar a todas para uma escola ou duas que, regra geral, ficam na sede de concelho, onde tudo é tão distante do que elas conhecem.
E se, mesmo assim, esta solução ficasse mais cara? Ainda assim, sr. primeiro ministro, ainda assim este investimento seria bem mais rentável para o interior, a médio e longo prazo, do que todas as medidas de incentivo às empresas e ao mundo rural que pretende pôr em prática!
Imagine-se que até nos aventuramos a criar uma empresa numa destas aldeias, a beneficiar dos tais 5 anos de isenção de contribuições para a segurança social. Imagine-se que a
vidinha se vai organizando e que até se tem um filho ou dois. E que depois, nos fecham a escola onde vamos recolher a criança e nos avisam que ela terá que passar a fazer uns quantos km para ir para a escola. Todos sabemos qual é o passo seguinte: pegar na trouxa, vender a
casita e procurar outra lá na cidade da escola da criança. Imagine-se! Imagine-se todo o interior
metódica e sistematicamente
delapidado de investimento, atenção e estratégia. E, por fim, é também a esperança e o alento que morrem.