quarta-feira, 28 de abril de 2010

Pecado capital

Ela regressou e (re)começou a escrever assim:

"Ela repousa quieta e sossegada, com uma expressão gélida e o corpo muito hirto, a pele ofensivamente branca e macia. Espera em silêncio. Espera como de costume, porque é sempre ela quem chega primeiro, quem se deita primeiro, quem se oferece primeiro. Nele, pressente-se o fervor, a ânsia de deslizar sobre ela, de mergulhar no seu corpo, de a manchar irreversivelmente. Então, inclina-se sobre ela devagarinho e toca-lhe. Ela estremece ligeiramente. Os braços dele, morenos e sensuais, estendem-se, multiplicam-se, envolvem-na e ela começa a deixar-se levar. Com denguice, arrasta-se suavemente de um lado para o outro num balanço feminino. Aos poucos, a sua frieza vai-se desvanecendo, cede ao calor com que ele a domina. Está submetida, não tem por onde libertar-se dos braços e das pernas dele. Ele entra-lhe por todos os poros, por todos os sulcos, por todas as fendas, deixa-lhe marcas na pele. É difícil perceber onde um acaba e começa o outro. Por esta altura, já se espalhou um odor na atmosfera, quente e adocicado, aquele odor que fica sempre na fronteira entre o lascivo e o nauseabundo. Há muito que ela abandonou a sua postura hirta, perdeu o controlo de si mesma, já não sabe para onde vai, não importa como se movimenta, desfaz-se mais um pouco da frieza inicial a cada assalto dele. Escorrem-lhe do corpo fluídos que se misturam com os dele. Juntos, atingem a perfeição e deixam-se ficar, já mornos, mudos e serenos, vencidos um pelo outro, desfeitos um no outro.É nesta altura que me descontrolo. A minha respiração acelera, o coração está prestes a saltar-me do peito, a saliva acumula-se-me nos cantos da boca já entreaberta. Não consigo ficar mais tempo apenas a olhar. Quero fazer parte daquilo."

e, para além de nos pregar uma valente partida, a malvada nem permite comentários!!!

3 comentários:

J. Rodrigues Dias disse...

Companheiros sempre!

Companheiro aprendendo, apreendendo,
A interiorizar o que o outro vai ensinando
Apenas a sussurrar, ou docemente a beijar;
Depois, companheiros, iguais, diferentes,
Posições entre si trocando, quase sem trocar,
Aprendendo-se, um ao outro, no dentro e no fora,
Em cada aprender e em cada ensinar,
Integrando-se, então, como que fundo se fundindo,
Um no outro, unindo-se naquele doce gostar,
Naquele tão doce, quentinho e fresco, saborear!


J. Rodrigues Dias

Nádia disse...

Esta malta farta-se de brincar com as palavras! :)

S disse...

mmmmmmmmmm, pois é.