terça-feira, 14 de julho de 2009

mulheres destes dias

Mulheres que vivem extenuadas. No limite. Movimentam-se numa correria que começa cedo: levantar-se, arranjar-se, preparar o(s) filho(s) para a escola, carregar o carro e ala aí vamos nós. Almoçam de pé, mesmo quando o fazem em casa; ainda um dia destes a J me contava " sento as miúdas - tem três, coisa rara!, ponho-lhes a comida nos pratos e vou, também eu, comendo enquanto lhes dou apoio. Nem me sento!"
Na tarde que é curta para tanta coisa encaixam-se mais umas horas de profissão, umas compras feitas à pressa para repor o stock de cereais, leites e fruta, mais uma reunião ao fim da tarde e um telefonema para o companheiro apanhar os miúdos na escola, nova ida ao super mercado para levar um jantar já feito e, por fim, a frustração de que, entre as correrias e o cansaço, não sobrou tempo nenhum para si própria.
Os dias sucedem-se, num ritmo que parece ganhar vida própria, num ciclo que se auto-alimenta enquanto as mulheres trabalham 12/14h por dia e ganham o campeonato das mulheres que trabalham mais horas na Europa.
Tenho dúvidas de que consigamos ganhar o campeonato que mais interessa e que teria que ser (necessariamente) o "das mulheres mais felizes e mais realizadas da Europa" esse, desconfio, deve estar bem distante.
Reconhecemo-nos umas às outras nas olheiras mal disfarçadas, nos carrinhos que chocam em corredores de super-mercado, nos desabafos fugazes enquanto nos sentamos dois minutos para beber o café da praxe "ontem estava tão cansada que fui deitar o mais pequeno e adormeci com ele. acordei às tantas com o mais velho a tossir e a vomitar. esqueci-me da panela de pressão ao lume e quando dei por ela já a casa estava cheia de fumo. íamos morrendo"...

- andamos tão cansadas, repito a meia-voz, não vá o governo ouvir-nos e achar que ainda podemos assumir mais umas quantas coisas.

4 comentários:

disse...

Mais de 10 000!
Não ajuda(o) muito a aliviar a carga... mas vale a pena registar que o contador já regista 10 001 visitas. Bravo! Entre o pouco tempo disponível ainda vais encontrando uns minutos que justificam estas visitas. Parabéns!

Anónimo disse...

A grande questão é: qual a alternativa?

Fomos nós que escolhemos ter filhos, trabalhar, ser independentes económica s socialmente, assumir as propostas que nos faziam brilhar os olhos e os sonhos...

Às vezes penso que nós mulheres (estas, daqui) parecemos umas adolescentes ainda deslumbradas com as ideias de liberdade e autonomia que foram agitadas como bandeiras de um qualquer clube... Como se não fossem nossa pertença, intrinsecas, mas algo que se compra com o esforço de todos os dias.

Não fomos ainda capazes de assumir plenamente essa condição de independentes e autónomas incondicionais. Continuam a ser ideias que nos agitam os quotidianos, longe de atingirem a maturidade das concretizações que nos fundem a felicidade, o prazer, o gosto pela vida.

Como ficou claro quando "depois "tu" eras o pai natal" sonhar continua a ser pouco consistentes, pouco persistentes, pouco consequente.

As mulheres são por estes dias convidadas a transformarem os sonhos onde surgiam heranças de familiares que não existem, um príncipe encantado na nossa república, ou aquele emprego fantástico numa empresa que alguém criou para nós.

O nosso sonho terá de ser inventado inventado a partir da massa com que somos feitas. Parece-me que só poderão ser sonhos feitos de sensibilidade, de inteligência, de muita atenção aos outros mas também a nós próprias. De solidariedade, de partilha, de ternura. Onde as supermulheres se transformem em gente que se respeita e que por isso é respeitada pelos outros.

Rita Camões disse...

Been there:S

S disse...

Claro que sonhamos estas coisas todas para nós. Claro que optamos, a maior parte das vezes, conscientemente por este caminho e claro que todas as escolhas têm um preço. Claro. Claro. Claro.
Já não é tão claro que estas conquistas tenham para nós um preço que, por ex., os homens não têm de pagar. É um preço que se paga em abnegação quase absoluta, numa imensa capacidade de sofrimento, de trabalho, de dedicação.É um preço caro para as mulheres. E é assim porque a sociedade em que vivemos não quer de outra maneira.