Mulheres que vivem extenuadas. No limite. Movimentam-se numa correria que começa cedo: levantar-se, arranjar-se, preparar o(s) filho(s) para a escola, carregar o carro e ala aí vamos nós. Almoçam de pé, mesmo quando o fazem em casa; ainda um dia destes a J me contava "
sento as miúdas - tem três, coisa rara!,
ponho-lhes a comida nos pratos e vou, também eu, comendo enquanto lhes dou apoio. Nem me sento!"Na tarde que é curta para tanta coisa encaixam-se mais umas horas de profissão, umas compras feitas à pressa para repor o stock de cereais, leites e fruta, mais uma reunião ao fim da tarde e um telefonema para o companheiro apanhar os
miúdos na escola, nova ida ao
super mercado para levar um jantar já feito e, por fim, a frustração de que, entre as correrias e o cansaço, não sobrou tempo nenhum para si própria.
Os dias sucedem-se, num ritmo que parece ganhar vida própria, num ciclo que se auto-alimenta enquanto as mulheres trabalham 12/14h por dia e ganham o campeonato das mulheres que trabalham mais horas na
Europa.
Tenho dúvidas de que consigamos ganhar o campeonato que mais interessa e que teria que ser (necessariamente) o "das mulheres mais felizes e mais realizadas da
Europa" esse, desconfio, deve estar bem distante.
Reconhecemo-nos umas às outras nas olheiras mal disfarçadas, nos carrinhos que chocam em corredores de super-mercado, nos desabafos fugazes enquanto nos sentamos dois minutos para beber o café da praxe "
ontem estava tão cansada que fui deitar o mais pequeno e adormeci com ele. acordei às tantas com o mais velho a tossir e a vomitar. esqueci-me da panela de pressão ao lume e quando dei por ela já a casa estava cheia de fumo. íamos morrendo"...
- andamos tão cansadas, repito a meia-voz, não vá o governo ouvir-nos e achar que ainda podemos assumir mais umas quantas coisas.