quarta-feira, 11 de março de 2009

um post de protesto ou a saga do magalhães

Este podia ser um post de indignação mas vou optar por uma abordagem mais pragmática.
Em baixo está um texto escrito pela http://maepreocupada.blogspot.com/. Optei por copiá-lo para aqui, depois de lhe dizer, porque quero contribuir para que seja lido pelo máximo de pessoas. A minha esperança é que ele encha as páginas da internet, que arranque comentários e alimente discussões, que despolete protestos, em suma que dê origem a uma onda de indignação. Coisas destas já não deviam ser toleráveis.



Erros ortográficos no Magalhães: acidente ou negligência?
Estávamos em 26 de Setembro de 2008 quando eu, crente e estúpida, decidi agir como uma cidadã responsável e uma mãe preocupada e avisei o Governo sobre os erros de ortografia que constavam em vários conteúdos do computador Magalhães. 26 de Setembro de 2008. Abri uma nova mensagem no meu e-mail pessoal e coloquei, como destinatários, o gabinete do Primeiro-Ministro, o gabinete do Ministério da Educação, o gabinete do Secretário de Estado da Educação e o gabinete do Secretário de Estado Adjunto da Educação. No assunto, em caixa alta, para que não passasse despercebido, escrevi "Erros Ortográficos no Magalhães". No corpo da mensagem, deixei o alerta, da forma mais educada, objectiva e clara que me foi possível. Assinei a mensagem com o meu primeiro e último nome. No dia 3 de Outubro, havia um e-mail na minha caixa do correio, proveniente do gabinete do Secretário de Estado Adjunto da Educação, a dar-me conhecimento do reencaminhamento da minha mensagem para a Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. Fiquei contente. O meu e-mail não caíra em saco roto!!! Seis meses depois, os jornais e as televisões anunciam a grande descoberta feita pelo deputado José Paulo Carvalho: há erros ortográficos no Magalhães! O Secretário de Estado Adjunto da Educação tira-lhe o chapéu, afirmando que o senhor deputado "prestou um grande serviço ao país" e manifesta o seu desagrado e a sua indignação perante a existência de tais erros na bandeira (esfarrapada) do E-Escolinha. "Uma surpresa", algo que "não devia ter acontecido" e que "devia ter sido detectado", foram algumas das expressões usadas por Jorge Pedreira ao referir-se a este problema.Conforme a comunicação social informa, "a denúncia dos erros tornou-se o objecto de requerimento que tem data de 4 de Março" (in Jornal Expresso de 07/03/09). 4 de Março! Quase seis meses depois de o gabinete do Primeiro-Ministro, o gabinete da Ministra da Educação, o gabinete do Secretário de Estado da Educação e o gabinete do Secretário de Estado Adjunto da Educação terem recebido o meu alerta! Foi preciso o meio político começar a fervilhar e as guerrilhas partidárias virem ao de cima para as crianças portuguesas serem devidamente compensadas. Seis meses! Seis meses de inércia, silêncio e negligência! Seis meses a fazer de conta que o problema não existia! E agora o senhor deputado José Paulo Carvalho, porque tem a sorte de ter assento na Assembleia da República, foi ouvido! Eu só tenho assento nesta minha cadeira giratória onde passo os dias a estudar os biliões de combinações possíveis entre os milhares de vocábulos da nossa língua. E no meu sofá, onde passo os serões a ensinar os meus filhos a pensarem pela própria cabeça e a nunca abdicarem dos valores supremos da verdade, da dignidade e da liberdade. Que inútil eu sou, meu Deus! Lamento e peço desculpa a todos os portugueses (preocupados) pelo facto de o meu e-mail de 26 de Setembro de 2008 não ter tido o eco que devia nem ter surtido qualquer efeito prático. Lamento não ter assinado esse e-mail com qualquer título académico que lhe desse força e importância. Lamento não ser filiada num partido da oposição nem em qualquer outro que constitua uma ameaça à estabilidade governamental e que, por isso, tornasse urgente a resolução do problema. Lamento ser apenas uma mãe preocupada com o respeito pela língua portuguesa. Lamento ser apenas uma cidadã que não se coíbe de avisar as entidades responsáveis quando as coisas não estão a funcionar como deviam. Lamento apenas fazer uso dos direitos que a democracia me deu. Lamento acreditar. E acho que cada vez mais lamento ensinar os meus filhos a fazerem o mesmo.Mas o que eu lamento, do fundo do coração, é que ninguém me prove que estou redondamente enganada quando afirmo que, mesmo não tendo culpa dos erros ortográficos do Magalhães, o Governo e a Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular foram negligentes por terem ignorado durante seis meses o aviso de uma mãe preocupada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Este é um caso interessante que incita à reflexão sobre o nosso sistema democrático.

Esta mãe preocupada não pode perder energiasd a que questionar nem os seus procedimentos, nem as suas convicções, ou ainda a educação em valores que tenta passar aos filhos... Acredito que é com base nas pessoas que insistem em valores que ainda sustentamos este mundo.

O que aqui se deve, a meu ver questionar, e muito, é a qualidade da democracia. Esta mãe (e eu tenho conhecimento de outras)reagiu ordeira e civilizadamente a um erro, inaceitável, que muitos pais verificaram mas muito poucos criticaram formalmente.

As reações ordeiras e correctas foram personalizadas por um deputado, e tratadas porum sistema politíco-partidário,onde não cabem cidadãos apenas com primeiro e último nome. Onde não têm entrada pessoas. Nesse universo vale o cartão de inscrição partidária, as ligações pessoais, familiares, financeiras, e outros argumentos desta natureza. Não valem de todo, ou têm um peso irrisório, os valores da dignidade, da verdade, da liberdade.

Os valores que podendo suportar os homens não nutrem directamente, e num prazo suficientemente curto para que seja suportavel, as suas contas bancárias, e as suas redes de influência, são por isso bem arrumados a um canto escuro da consciência.

Mas as pessoas,(incluindo as que se dão ao luxo de ter valores e de os defender, ainda que com incómodo seu e dos outros),têm em Portugal, a oportunidade de se manifestarem em eleições, por três vezes este ano. Quem sabe possam ser oportunidades para transmitir o desagrado ou pelo menos a não cumplicidade com um sistema que exclui as pessoas...

Ocorre-me agora aquele episódio que presenciei estupefecta, então com 20 aninhos, num pequeno cantão suiço, onde as mulheres que aí não tinham direito a votar, foram uma vez chamadas a eleições para dizerem se queriam ou não ter esse dirito... Votaram, maioritariamente, para que não pudessem votar!
Espero que aqui em Portugal, este ano, não insistamos em votar para continuar a ser excluídos!
Para continuarmos a não ter espaços de participação, no caso de não pensarmos como a maioria!
Que não votemos para continuar a falar da mudança que sabemos que não querem... em alguém que supostamente tudo sabe, tudo pode, tudo vence...a pensar em nós! Como os maridos daquelas mulheres suíças em quem elas delegaram!

O meu voto de hoje é de elogio às pessoas! Que escrevem nos blogs, que são mães, avós, pais, gente! Sem esquecer os casos especiais dos que fazem hoje anos!!!

S disse...

Pode ser que se trate, no essencial, da qualidade da democracia. desta democracia que reservou o espaço de intervenção aos tais partidos políticos, nos quais, muitos de nós, já nem se sentem representados. e afinal devemos reservar o nosso momento de participação ao voto, mesmo quando se faz na convicção de que mudaremos algo com ele? não pode ser! não chega. a autora deste texto é uma mulher combativa, inconformada, uma mãe realmente preocupada que não foi ouvida mesmo quando o assunto diz respeito ao tal bem-comum. isto assim vai muito mal.

MP disse...

Cara S.,

Antes de mais, os meus parabéns pelo seu aniversário. Espero que tenha recebido tudo aquilo que merece de todos aqueles de quem gosta :)

Agradeço-lhe a atenção que dedicou ao meu texto e queria dizer-lhe que já troquei novos e-mails com a Secretaria de Estado no sentido de obter esclarecimentos. Estão a ser dados, mas penso que, agora, a obrigação de os tornar públicos não é minha, mas de quem tem a responsabilidade por manter os cidadãos informados.

Um abraço