quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

o lugar dos livros




que inspiração para a organização do espaço interior. notas para um futuro próximo.

o resumo dos dias

Calças de ganga com buracos, a cair pelo rabo abaixo e usadas com saltos altos em corpos magros e cabeçudos é para mim uma imagem da falta de estética e de individualidade dos nossos dias. Haverá coisa mais feia?
(well, ...)

A receitinha que leva sementes e bagas (já não há nada que não leve estas inovações gastronómicas) como se já ninguém soubesse cozinhar, nem ser feliz e saudável sem usar estes venenos no seu dia-a-dia. Já se lembraram que a maioria das sementes concentram quantidades brutais de químicos e de toda a porcaria com que trataram as plantas? Já se perguntaram de onde vêm esses pequenos milagres de saúde e beleza?
Não é que eu não goste de um pãozinho com sementes, ou de adicionar uns mirtilos a um iogurte mas daí a convencer-me que, se não comer isto todos os dias e em substituição do que sempre me habituei a comer, não serei gira e saudável e mimimi aos 50 vai um mundo.

Por  estes dias vejo pouca televisão mas não deixo de ouvir todo o mundo a falar das praxes e das atrocidades que se cometem no aconchego desse mundo fechado que é instituição académica (universidade ou politécnico; publica ou privada, velha ou nova, tanto faz). Haverá mesmo assim tanto para elaborar? Criminalize-se já este tipo de abuso sobre outros incautos e indefesos e está o assunto resolvido. Ai espera aí, não há coragem para enfrentar a tradição instalada (tradição inventada à medida dos abusadores mas pronto serve tudo...)


sábado, 25 de janeiro de 2014

as tropelias dos senhoritos do CDS

 Anda por aí uma gentinha a dizer alarvidades como se de uma revelação se tratasse. Sobre uma delas (a diminuição da escolaridade obrigatória, Pacheco Pereira já lhes chegou a roupa ao pelo: uma escravatura civilizada. E bem.

O chorrilho de disparates que sai daquelas mentes inaptas deveria ser julgado criminalmente e o mal que estão a causar a tantos portugueses devidamente ressarcido.

o tempo do tudo ou nada

e assim chegamos ao tempo em que só há dois lados: ou és uma destas pessoas cuja vida se mudou para a realidade virtual ou estás do outro lado da barricada recusando utilizar qualquer uma dessas tecnologias invasivas e dominadoras que agora pululam por todo o lado.
De um lado os que se desnudam nas redes, nos blogues, nos emails, os que encaixam o dia-a-dia entre teclas, bites e gostos.
Do outro os que recusam essa mesma realidade com medo de perderem a sua liberdade e campo de manobra.
Entre uns e outros não há espaço para meios-termos como se não fosse possível outra forma de estar que não implique a total adesão ou a recusa definitiva.
Há quem profetize que a intimidade acabou e quem nunca se tenha sentido tão acompanhado nesta aldeia em que vivemos todos.
Enfim...de uma forma ou de outra é bem provável que nunca tenhamos tido tão pouca escolha como agora.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

como a minha mãe

Nem ouvi bem o inicio da conversa porque estava completamente concentrada no vermelho luminoso do casaco CH que ela trazia. Há qualquer coisa nesta cor que me atrai.
A dada altura ouvi-a falar da mãe e prestei-lhe atenção porque a mãe dela morreu há muito tempo. Acho que há tanto tempo como a minha.
Diz que agora que chegou aos quarenta, que vida lhe corre bem, está exactamente no ponto em que estava a mãe dela com a mesma idade, os filhos a chegar à adolescência, a situação económica da família remediada mas sem direito a luxos. Ora a minha amiga é uma mulher de garra, trabalha loucamente, é bem sucedida profissionalmente, tem dois miúdos amorosos daqueles que parecem saídos das revistas e até o marido é um charme. Às vezes tenho que a evitar para me impedir de a detestar por tudo lhe correr tão bem.
Ela sabe.
Suponho que é por isso que me conta este episódio rocambolesco em que a mãe dela, depois de uma discussão feia com o pai, lhe confidencia que um dia, quando ela for crescida e bem sucedida irão viver as duas. Quando esse momento chegar vai conseguir deixar o homem que a tortura com a sua personalidade dominante, violenta e provocadora.
Não percebes? Eu ainda era uma pré adolescente e disse à minha mãe para deixar o meu pai e ela, coitada, que não ganhava o seu próprio dinheiro e tinha três filhos para criar, disse-me que um dia faria isso.
Bem e em que medida é a tua vida assim tão parecida com a da tua mãe neste exacto momento?, perguntei-lhe isto para não chegarmos as duas ao momento da conversa em que nos recordamos que as nossas mães morreram num acidente violento.
E assim a minha querida e odiada amiga partilhou comigo o vazio em que a sua vida se tornou, diz-me que se sente apanhada numa armadilha que lhe traga toda a energia, qualquer réstia de individualidade e de liberdade a que possa aspirar. Conta-me que já não pode ficar com o pai dos seus filhos mas que não se imagina a priva-los de crescerem com ele, que está em piloto-automático, que a vida de todos os dias é uma sucessão interminável de tarefas que a fazem correr que nem uma doida mas apenas isso.
Desvio os olhos para o casaco. Porque diabo me lembrei da Virgínia Wolf?
Despedimo-nos com um único beijo, cabisbaixas. Aqui jaz a minha esperança na revolução doméstica.