terça-feira, 19 de novembro de 2013

"desculpem lá pais"

Esta mensagem chegou-me por email.


"Desculpem lá pais que estavam a manifestar-se à porta da escola do meu filho, às 9 horas da manhã, precisamente quando eu preciso tanto de correr. Os dias são isto, levantar cedo, preparar mochila, saco do lanche, saco da natação, dar de comer ao gato, levantar uma criança sonolenta, despachar-me, correr, correr, correr para conseguir deixa-lo na escola mesmo às 9 e seguir para o trabalho. Vida de uma mãe que trabalha muito. Não tive tempo para parar e ler os cartazes que alguns miúdos levantavam. Pelo canto do olho li a palavra terapias e professores de ensino especial, vi crianças em cadeiras de rodas mas tive que prosseguir por entre as dezenas de pessoas que iam chegando, deixar a criança e ignorar a surpresa dos manifestantes. Pensei para comigo que se trabalhassem não estariam ali. Ou podiam marcar a manifestação para as 6h que assim já não prejudicavam tanto as outras crianças. Às 9 é que não. Desculpem lá pais.
Ás 9 os pais querem largar os filhos ao portão da escola e seguir para a vida, para os empregos, para as compras, para o café, sabe-se lá. Às 9 as crianças passam o portão e deixam de nos moer a cabeça durante umas boas horas. Elas ficam bem e nós precisamos muito desse intervalo. Mesmo que não haja auxiliares para as vigiar nos intervalos, que não há, descobri agora. Elas ficam bem mesmo que uma caia e se esfole toda e ninguém lhe acuda, mesmo que outra vomite tudo e não haja por ali alguém para ajudar e para limpar como percebi agora mesmo. Às nove elas ficam bem mesmo que à hora de almoço ninguém lhes arranje uma posta de pescada de má qualidade, ninguém lhes parta a pera que ainda precisava de ficar mais umas semanas na árvore. Parece que a hora de almoço é mais a hora do circo no refeitório já que os mais novos não conseguem comer mas sabem atirar comida uns aos outros. Olha comem o lanche que os paizinhos lhes mandam. Ou então comem em casa à noite. É certo que nem todos mas o meu come. Desculpem lá pais, os vossos problemas não são os meus. O meu filho até nem tem dificuldades cognitivas, nem é surdo nem nada. Se cair levanta-se, se tiver que procurar encontra e se chorar paciência, não quero pensar nisso.
Desculpem lá pais, eu sei que as turmas estão gigantes, que os professores não podem fazer mais mas olha, é pelos tempos em que faziam de menos. Eu cá trabalho muito e também ganho uma miséria. E ninguém me dá pancadinhas nas costas.
Desculpem lá pais, que eu até sei que todas as crianças devem estar na escola. Então e não estão? Que querem vocês? O meu filho diz-me que na turma dele está para lá um menino que nunca fala, parece que nunca fala com ninguém, não brinca com os outros meninos, só risca, risca, risca. Um meu filho tem tentado falar com ele mas só leva encontrões. Eu digo-lhe para deixar de tentar. Que o deixe simplesmente. Mas a criança não me ouve. Diz que vai conseguir.
O meu menino diz que vai conseguir que o coleguinha dele lhe ligue.
Parei. Gelei.
Desculpem lá pais.
Desculpa lá filho.
Desculpem lá todos por me ter tornado nesta pessoa que não vê para além da sua vida difícil, da sua corrida diária. Eu não sou má pessoa. Apenas não tenho tempo agora."