Este texto podia ser sobre uma das causas do nosso subdesenvolvimento endémico, sobre porque é que os nossos empresários (uma grande parte) não aguentam a concorrência de uma simples lojeca de tarecos chineses ou até sobre as vantagens desse diabo que é o mercado livre.
Mas é apenas sobre um episódio doméstico, uma coisa banal como é a cama do pequeno precisar de um arranjo, ter-se chamado o carpinteiro e eu ter ficado um dia inteiro à mercê desta incrível criatura. Veio no final da manhã, entrou-me pela casa sem cerimónias nem cuidados - qualquer pequeno gesto como limpar as botas molhadas e sujas ter-me-ia deixado satisfeita, que eu sou uma rapariga fácil de contentar mas, tais preocupações, estavam longe do seu espírito ocupado.
Inspeccionou a cama, teceu uns comentários e depois espalhou tudo pelo quarto do miúdo: colchão, estrado, etc, etc. Quando finalmente concluiu que era melhor arranjar a cama ali mesmo perguntou-me se ia precisar dela esta noite. Sem perceber exactamente a sua intenção disse-lhe que sim, que o miúdo dorme ali e precisaríamos do quarto. Depois corrigi e expliquei-lhe que o colchão bastaria se ele precisasse de levar a cama mas desisti de ter boa vontade quando finalmente lhe percebi as intenções. O sr. carpinteiro congeminava na sua cabeça sobre se iria fazer um outro trabalhinho que prometera e deixar este trabalho para terça-feira ou se viria de tarde acabá-lo.
Expliquei-lhe, já com cara de poucos amigos, que um quarto naquelas condições não é o lugar mais seguro para uma criança ele acedeu e prometeu-me que iria fazer tudo para voltar à tarde: "às 2h30 pode ser?" Ainda teve tempo para corrigir um problema com a porta de entrada que retirou do sítio, apoiou sem nenhum tipo de protecção e limou. Limar não é o termo mas esteve ali a fazer lixo e barulho com aquelas maquinas de cortar. Colocou a porta esfolada no sitio e foi-se embora.
Voltou à hora prometida com os mesmos modos.
Eu gostaria mesmo era de ter opção e de não ter que voltar a chamar este senhor nem para pregar uma tabuinha que fosse. Infelizmente não há concorrência, não há brio profissional e eu acabarei a tarde a limpar o pó e todo o lixo que este sr. profissional tiver feito na minha casa. E depois disso terei que voltar a limpar as pegadas que marcaram o chão na entrada, pela segunda vez. E ainda vou ter que lhe agradecer pela sua disponibilidade já que, diz ele, até ao final do mês já não tem tempo para mais nada.
Não me cabe na cabeça que todos estes profissionais que entram nas casas das pessoas para trabalhar (electricista, carpinteiros, pintores, pedreiros e tantos outros) não tenham o mínimo de consciência sobre o que é respeitar o espaço dos outros e não limpem a porcaria que fazem.
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