é uma rapariguita ignorante e maltratada no corpo errado. às vezes a natureza engana-se e prega umas partidas destas. imagino que isto já seja suficientemente doloroso para quem tem uma estrutura familiar e social minimamente saudável. nem quero pensar no vendaval que varreu a vida desta filha do infortúnio.
pediu-me que a trate por alexandra, ao que assenti, sacudindo o cabelo às madeixas, o queixinho corajoso a tremer enquanto imitava uma dessas poses supostamente muito femininas que nunca vemos realmente em mulher nenhuma. a mala a abanicar no braço meio dobrado mas estendido para a frente, a outra mão na anca, uma alarvidade qualquer a soar dos fundos e eu a concordar em tratar por alexandra o alexandre.
a alexandra e a sua mala não me incomodam. nem as canetas de todas as cores com que gosta de enfeitar o caderno onde escreve quase compulsivamente.
mas numa manhã morna e interminável perguntou-me se sabia que existe uma erva da felicidade, muito longe numas montanhas muito altas cujo nome lera num livro chamado as bruxas de avalon pelo que era certinho que existia e que ela havia de a encontrar.
e o rol de perguntas e comentários impensáveis foi de tal ordem que às tantas já não atinava com uma resposta minimamente sensata para lhe dar. até à ultima em que me contou que encontrou uma casinha, (e até já tem a planta da casa na cabeça) e já sabe onde quer derrubar uma parede e construir não sei o quê. diz que a vai comprar por mil euros.
perguntei-lhe se era arrendar. disse-me que não, que tem contactos, que lhe devem dinheiro por coisas que eu nem sonho e que tem um livro qualquer de bruxaria e que a mulher lhe vai vender a casa, que é um buraco, por esse dinheiro.
pronto não me lembrei de nada para lhe dizer. ainda bem.
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