domingo, 21 de julho de 2013

mulheres

Fala alto, pragueja, é mal educada, rude, indiferente a tudo e a todos os que não tenham algo para lhe oferecer e, contudo, ficou-me marcada na pele, entre vários outros e outras problemáticos. 22 anos de menina mulher desenhados a murro e pontapé de toda a ordem.
Nem é preciso perguntar-lhe quem ou quando lhe fizeram tal maldade. Em meia dúzia de palavras percebeu-se que o pai zurziu mãe  e filha enquanto teve oportunidade e, pelo meio uns namorados e por fim também o pai do seu filho perpetuaram o ritual.
Respondeu-me um dia, quando lhe perguntei por onde andava - em jeito de repreensão, que lhe doía  a cabeça. Tinha sonhado que a acordavam ao murro. Quem?, estremeci, pela primeira vez a ouvir os horrores daquela historia. Arengou que o pai é que acordava a mãe assim e lá terminou a dizer que o ex-também lhe fazia isso.
Num destes dias em que a levei a casa no meu carro, carregada com um saco de miséria que a Caritas lhe deu lá me disse que vive só com o seu menino a quem jurou que nada faltaria.
Daí para cá não passou um só dia em que não me tenha lembrado do menino de dois anos que não conheço mas que, de certeza, já sofre na pele os efeitos dos horrores que a sua mãe-menina tem vivido. Porque a miséria produz-se, aprende-se na pele, aprisiona os que a experimentam.

2 comentários:

kuka disse...

Olá! Ainda bem que regressou. Cheguei a temer que algo de grave se tivesse passado. E a filha está bem?

S disse...

Está tudo bem. É difícil retomar as rotinas no 1º ano dos pequenos em especial quando já existe outro. Por outro lado há rotinas que não apetecem.
Bem haja pelo seu cuidado e também pela visita!