quarta-feira, 30 de junho de 2010

quando o corpo nos trai

insónias: o corpo procurou incessantemente uma posição de conforto em que pudesse adormecer, atravessou as divisões escuras da casa, refugiou-se na emissão tardia da televisão. sem sucesso.
os barulhos da casa adormecida agigantaram-se e, com eles, a dor de cabeça. eram sete quando o sofá da sala, agora atravessada pelos carros que já estreavam a manhã na rua, lhe deu guarida. às oito acordou o mais pequeno numa explosão de energia. depois foi a sucessão habitual de tarefas realizadas mecânicamente, na tentativa de ignorar a agonia que se apoderou dos membros.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

uma nunca chega


nas memórias da minha infância há um lugar especial para as cerejas. com a chegada destas pequenas bolinhas vermelhas era tempo de subir às árvores, de comer até doer a barriga, de apanhar cestos delas e levar para casa, de as trazer penduradas nas orelhas a fazer de brincos. a minha avó tinha uma árvore destas muito grande, muito alta e trepá-la era uma aventura.
quando penso nisto invade-me uma saudade muito doce daquele tempo: do tempo de ser pequena, despreocupada, livre.
neste fim de semana a querida L trouxe-nos uma caixa de cerejas do Fundão - que dividimos com o resto da família. o verdadeiro festim é para mim já que o Zé não é um grande apreciador e o miúdo prefere "quiquis" ou seja quivis. coisas dele.
hei-de fazer clafoutis esta semana.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

mudança de ciclo





há uns tempos eu disse que o fundo da tela era em verde mas, em poucas semanas, mudou tudo. agora é dourado, amarelo, castanho e ocre que o verão chegou e parece que começou logo a sua tarefa de secar tudo. tudo menos as vinhas extensas e os olivais intensivos que povoam já grande parte da paisagem alentejana.

a foto é do Zé, justiça lhe seja feita - que mesmo quando me atormenta com a espera, não abdica de retratar o "seu" alentejo.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

tendências

acontece-me muitas vezes comprar jornais, revistas e até livros no supermercado. não é uma coisa de que goste - mil vezes o ritual de parar no quiosque para trazer o jornal, perder-me numa livraria e depois passar-lhes os olhos enquanto bebo um café. mas o supermercado (vamos evitar as referências aos nomes das grandes superfícies sim?, agradecida!) é meu amigo e até consegue oferecer tudo o que preciso de trazer para casa. é deveras interessante esta minha rendição à coisa enquanto continuo a defender que se remodelem os mercados tradicionais e se lhes dê vida. ai de mim!

adiante.

ontem, enquanto me dedicava a esse intrigante desporto que é o de escolher coisas das prateleiras para depositar no carrinho de compras, a troco de uma boa maquia, deparei-me com uns quantos livros com aquele grafismo interessantíssimo a dar para o ecológico e o verdinho, assim como quem diz: olha podes comer-me que faço quase tão bem como uma alface! um é do Goleman - autor que me fartei de ler a propósito da inteligência emocional e umas coisas assim. este é sobre a poder do consumidor na sociedade actual, que na sua procura pelas marcas responsáveis (social e ambientalmente) mudará o mercado. resisti à tentação de o trazer, num exercício penoso de ignorar o embrulho que vai direitinho aos meus interesses: o poder do consumidor esclarecido, a responsabilidade social e ambiental das organizações e das comunidades. é que o miolo, desconfio, é só mais uma artimanha de quem sabe muito bem cavalgar a onda.

terça-feira, 22 de junho de 2010

4 anos

há quatro anos, quando mo apresentaram e, por fim, o deitaram em cima do meu peito, eu nem desconfiava deste amor tão grande que haveria de nascer e crescer, crescer, crescer.

quer dizer, começamos a amá-los na barriga, a temer por eles, a ansiar pelo momento em que, finalmente, nos encontraremos.

depois ouvimo-los pela primeira vez e tudo é emoção.
cheiramo-los e temos a certeza que nunca mais nos separaremos.
amamentamo-los e rasga-se-nos o peito e a alma nesta certeza de que seríamos capazes de tudo por eles. são os sentidos que se aguçam, os instintos mais primitivos que despertam na fêmea que há em nós e que tudo fará pela sua cria. não tenho dúvidas nenhumas sobre isto.

são quatro anos de caminho com este doce de menino que encheu as nossas vidas, que nos fez crescer com ele e nos fez descobrir outras tantas coisas na sua descoberta do mundo. não há privilégio maior.
e eu estou grata por tudo.
hoje é dia de festa. parabéns meu querido
!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

em memória de

deixou de estar o homem que tem sido um dos meus escritores preferidos, ainda vivos.
agora que passou o bulício em volta do funeral, das representações e da santa ignorância e estupidez que grassa por todo o lado, não posso deixar de o registar. Leonor Barros põe em
poucas palavras um sentimento de indignação que partilho e Ana Vidal, certeira como sempre, ensaia a reportagem do que é reportado para as nossas casas. ambas no delito.

apaixonei-me por Blimunda e Baltazar (há tanto tempo!!!) e nunca mais parei de O ler. numa destas noites hei-de deixar tudo para depois e voltar à história destes dois.

terça-feira, 15 de junho de 2010

it takes a village to raise a child

Vem este antigo provérbio africano (que Hillary Clinton tornou famoso nos idos de 90) a propósito das escolhas desastrosas que o governo de Sócrates voltou a fazer na educação. Fechar escolas com menos de 20 alunos é uma escolha. Uma escolha política que tem custos tremendos para o interior. Mais uma vez. Pode argumentar-se que é por questões económicas - eu não acredito mas isso é outra coisa.
Em relação às tretas pedagógicas que têm sido argumentadas para justificar o injustificável lá irei mas, para já, vamos ao que resta, depois de fechadas as escolas.
Imagine o sr. engenheiro e a senhora ministra da educação o seguinte cenário numa aldeia pequena, numa vila, em qualquer lugarejo onde, até há bem poucos anos, existiu uma escola: por volta da hora de saída pais, avós, uma vizinha, alguém próximo espera a criança à porta da escola. Conversa-se, percorre-se o caminho a pé, cumprimenta-se este e aquele "diz olá ao sr. António filho", entra-se na padaria "queres este bolinho?", pergunta a Dona Júlia. Mesmo quando a criança pode voltar sózinha para casa há toda uma rede social de laços e relações que asseguram a vigilância e o acompanhamento suficientes "o teu filho passou lá pelo café e dei-lhe o lanche", para que ele chegue a casa em segurança. Pode ser que a biblioteca não seja a melhor, que o quadro eléctrico da escola não suporte as ligações dos novíssimos quadros interactivos, dos computadores e do aquecimento no inverno. Pode ser ...tanta coisa. A solução é simples, tão simples não é? Às vezes bastaria um pequeno investimento mas pronto, tudo isso custa muito dinheiro, muito mais do que as empresas de transportes cobram ao ministério, certamente.
É preciso uma comunidade para criar uma criança srs. ministros, acreditem!
E não, não queremos escolas com três crianças. Mas talvez seja possível juntar crianças de lugarejos, aldeias e vilas próximas, ao invés de as carregar a todas para uma escola ou duas que, regra geral, ficam na sede de concelho, onde tudo é tão distante do que elas conhecem.

E se, mesmo assim, esta solução ficasse mais cara? Ainda assim, sr. primeiro ministro, ainda assim este investimento seria bem mais rentável para o interior, a médio e longo prazo, do que todas as medidas de incentivo às empresas e ao mundo rural que pretende pôr em prática!

Imagine-se que até nos aventuramos a criar uma empresa numa destas aldeias, a beneficiar dos tais 5 anos de isenção de contribuições para a segurança social. Imagine-se que a vidinha se vai organizando e que até se tem um filho ou dois. E que depois, nos fecham a escola onde vamos recolher a criança e nos avisam que ela terá que passar a fazer uns quantos km para ir para a escola. Todos sabemos qual é o passo seguinte: pegar na trouxa, vender a casita e procurar outra lá na cidade da escola da criança. Imagine-se! Imagine-se todo o interior metódica e sistematicamente delapidado de investimento, atenção e estratégia. E, por fim, é também a esperança e o alento que morrem.

outros olhares


ou "o mundo ao contrário" ou ainda "qualquer sítio é bom para dar uma cambalhota"

segunda-feira, 14 de junho de 2010

o verão à porta


todos os dias alguém se zanga com o s. pedro porque não há meio de libertar o sol e o calor. uns que têm as sandálias e os vestidinhos em pulgas para sair dos armários. outros que querem ir para a praia. há quem ainda nem tenha provado as sardinhas. o rol de queixas e pedidos é tão grande que a gente até se esquece da crise que galopa no asfalto. pelo sim pelo não vou dizer isto discretamente: s. pedro estás a fazer um belo trabalhinho. deixa-te estar quieto, finge-te de morto e fecha o sol e o calor bem fechadinhos até lá para 2015. as minhas flores agradecem.

o despertador é que se esqueceu de tocar

o fim-de-semana-grande foi um festival de trabalhos de limpeza e arrumação (que estão longe de ficar concluídos). O resultado é que hoje acordamos todos um bocado tarde...

sábado, 12 de junho de 2010

curtos







não é verdade que a stone e a berry deixam as rapariguitas do sexo e a cidade a um canto? e de cabelo curto!!!





terça-feira, 8 de junho de 2010

que peixe comer? - serviço público


A liga de Protecção da Natureza lança hoje um site com informações sobre como comer peixe responsavelmente. Isto é, optando por espécies que não estão em risco.
Saúda-se a iniciativa.
Cá por casa vamos deixando de comprar bacalhau - ainda que se aprecie muito. O mesmo para o atum. Duas espécies que sabemos que estão em risco sério. Sobre a pescada desconhecia o ponto da situação mas fiquei hoje a saber que não é famosa.
Em contrapartida recomenda-se sardinha e carapau - vivam os santos populares (!!!) e o peixe espada preto particularmente o que vem de Sesimbra que é pescado como deve ser: ao anzol.
Posto isto não é coisa que mate ninguém dar uma espreitadela ao site http://www.quepeixecomer.lpn.pt/ para decidir a lista das compras.
curiosidade: somos o 3ª maior consumidor mundial de peixe. isto acrescenta-nos alguma responsabilidade não?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

vem com...5 da manhã, ei!

comecei o dia, e a semana já agora, a madrugar. eram 5 da manhã e já não tinha sono. agora só quero é que o dia chegue ao fim, tal é esta sensação de náusea e cansaço físico que me atormenta.

domingo, 6 de junho de 2010

"o vazio do espaço construído"

na sexta-feira o i trazia um dossier inteirinho sobre cidades sustentáveis. ideias, estudos de caso, a lista das 10 cidades mais sustentáveis do mundo. sei lá. um marketing catita sobre esta ideia de ambiente e sustentabilidade de que todos gostamos muito mas que se traduz em muito pouco. desde logo porque todos sabemos muito pouco sobre o assunto. e também porque não queremos saber.
não é o caso de gonçalo ribeiro telles. este é o homem que há anos vem chamando a atenção para as questões do ambiente. o homem que o país tem ignorado sistematicamente. percebemos que chegamos ao ponto em que nos encontramos hoje quando um homem desta craveira está simplesmente arredado do sistema de decisão. é triste.

a expressão que usei no título é dele pois claro. e faz todo o sentido quando denuncia o esvaziamento das aldeias e o corte dos laços primordiais entre o campo e a cidade. é preciso ler este homem para sabermos mais sobre a nossa própria caminhada.

as ideias na cabeça das pessoas

e depois de um corte radical também me ofereci um vestidinho. entrei lampeira numa lojinha, escolhi uns quantos e num instante fui envolvida numa grande conversa com a senhora da loja que nunca vi mais gorda. às tantas comentei que nunca tinha experimentado nenhum vestido da Hoss e ela perguntou-me muito espantada "onde é que vive?" quando lhe disse que em beja (o que é só uma meia-verdade) ela revirou a sua memoriazinha enquistada à procura de algum consolo que pudesse oferecer-me e, de repente, acho que se fez luz na cabecita: aaah! mas lá têm uma pallorran! a delícia é encontrar estes raciocínios parcos sobre a província e as suas pessoas ainda por cima sobre coisinhas tão insignificantes como a-marca-do-vestido-que-se-recomenda.
na semana passada meteu-se-me uma ideia na cabeça que acabou por me levar a um impulso incontrolável. a ideia era a de que o cabelo, que começava a tapar-me o pescoço (coisa nunca vista nos últimos anos) tornou-se insuportável e tinha que desaparecer.

e assim voltei ao meu estado natural que é o de uma cabeça desprovida (quase) do clássico atributo feminino que, ao longo dos séculos, tem sido considerado um ponto de interesse nas mulheres: a cabeleira, farta, comprida e ondulante e não o que está dentro da cabecinha.